Violência cresce no Nordeste

Jenilson dos Santos Conceição, 20 anos, jaz com o rosto virado para baixo no duro concreto, o corpo torcido, sandálias ainda nos pés e o sangue escorrendo de 14 ferimentos de bala e manchando a ladeira.

Uma pequena multidão de moradores assistia friamente aos 12 policiais rondando o corpo sem vida do jovem. “Ele foi perseguido, até que foi executado bem aqui”, disse o investigador Bruno Ferreira de Oliveira. “Eles queriam ter certeza de que estava morto”.

Conceição foi a terceira pessoa encontrada morta no estado da Bahia naquele dia de julho. Até o final do dia, seis morreriam violentamente, e até o final do mês, 354 seriam mortos, disse a polícia.

A geografia da violência no Brasil virou de ponta-cabeça nos últimos anos. Na região Sudeste, onde ficam Rio de Janeiro, São Paulo e muitos dos estereótipos mais duradouros de tiroteios e sequestros do país, o índice de assassinatos caiu até 47 por cento entre 1999 e 2009, de acordo com estudo de José Maria Nóbrega, professor de ciência política da Universidade Federal de Campina Grande.

Porém, aqui no Nordeste, região pobre que se beneficiou muito de programas sociais que o ex-presidente Lula patrocinou em seu mandato de oito anos, o índice de assassinatos quase dobrou no mesmo período de dez anos, tornando esta área a mais violenta do país, de acordo com Nóbrega.

Salvador, a maior cidade da região, é um dos maiores destinos turísticos do Brasil e entrada para algumas das praias mais espetaculares do país. E, assim como o Rio, está se preparando para receber a Copa do Mundo de 2014.

Então, as autoridades daqui estão seguindo os passos do Rio, tentando combater o amento da violência, estabelecendo unidades policiais permanentes em áreas violentas frequentadas por traficantes de drogas.

As forças policiais comunitárias que estão sendo instaladas aqui são similares às unidades de polícia pacificadora que o governo do Rio vem usando – causando comemorações e controvérsias – desde 2008 para reprimir a violência.

Community residents watch as the body of Jenilson Dos Santos Conceicao, 20, shot to death in the street, is removed from the scene, in Salvador, Brazil, July 1, 2011. In response to a new drug-related violence in the northeast, community police forces are stepping up their presence and establishing permanent police units in the most violent areas. (Lalo de Almeida/The New York Times)..
A view of the Nordeste de Amaralina neighborhood, in Salvador, Brazil, June 30, 2011. In response to a new drug-related violence in the northeast, community police forces are stepping up their presence and establishing permanent police units in the most violent areas. (Lalo de Almeida/The New York Times)..

O Nordeste tem sido contaminado pelo crime há muito tempo, porém, seu aumento ilustra como o crescimento econômico do Brasil vem fazendo com que a violência relacionada às drogas – a principal causa para o drama dos homicídios – migre para outras partes do país, conforme traficantes buscam novos mercados, provocando a tensão de forças policiais locais, de acordo com Nóbrega e oficiais locais.

A mesma onda econômica que colocou mais dinheiro no bolso de milhões de brasileiros pobres, especialmente aqui no norte do país, também estimulou mais o tráfico de drogas e os crimes mortais associados a ele, afirmam as autoridades. Elas também afirmam que traficantes, percebendo o potencial de um mercado mais fortalecido, investiram mais pesadamente no Nordeste, resultando em uma guerra do tráfico e na violência abastecida pelas drogas.

“Se o mercado consumidor está crescendo, o traficante de drogas também virá para cá”, disse Jaques Wagner, governador da Bahia. “O progresso social do Brasil é visível. Porém, ao mesmo tempo, ainda temos problemas com o tráfico de drogas em com a falta de respeito pela vida humana”.

Nos estados da Bahia e de Alagoas, especialmente, houve uma explosão da violência na última década. O número de assassinatos na Bahia cresceu em torno de 430 por cento, chegando a 4.709, entre 1999 e 2008, segundo, Nóbrega. No ano passado, o índice de assassinatos do estado, de 34,2 a cada 100 mil habitantes, foi maior que o do Rio, que caiu para 29,8. (Autoridades da Bahia afirmam que após se estabilizarem em 2010, os homicídios caíram 13 por cento em julho, em comparação aos primeiros sete meses em 2010).
Agências de viagens dizem estar preocupadas com o aumento da criminalidade nas favelas da Bahia – assim como os pequenos furtos motivados pelo vício no Pelourinho, o colorido centro histórico de Salvador.

“Salvador, atualmente, não está pronta para a Copa do Mundo em nenhum sentido, e eles estão começando a perceber isso”, disse Paul Irvine, diretor da Dehouche, agência de viagens no Rio de Janeiro que organiza viagens para ambas as cidades.

A man walks into his house, which is protected by a makeshift fence, in the Nova Constituinte neighborhood, known for a series of drug related killings, in Salvador, Brazil, June 30, 2011. In response to a new drug-related violence in the northeast, community police forces are stepping up their presence and establishing permanent police units in the most violent areas. (Lalo de Almeida/The New York Times)..
Police officers search a man during a patrol of the Calabar neighborhod, in Salvador, Brazil, July 1, 2011. IIn response to a new drug-related violence in the northeast, community police forces are stepping up their presence and establishing permanent police units in the most violent areas.  (Lalo de Almeida/The New York Times)..

Jaques Wagner desconsiderou tais afirmações, apontando que a Bahia celebra o Carnaval todo ano, em que mais de 1 milhão de pessoas tomam as ruas, com 22 mil trabalhando na segurança. “Passamos quatro anos sem um homicídio na rota da parada”, disse ele. “Para mim, o preparo da polícia não será de forma alguma um problema”.

As violentas favelas do Rio foram caracterizadas pelos conflitos entre a polícia e as facções do tráfico fortemente armadas que controlaram grandes faixas do território. Porém, no Nordeste, oficiais de segurança afirmam que pessoas historicamente resolviam disputas por conta própria – vizinho contra vizinho, de forma impune.

“O Nordeste está acostumado a fazer justiça com as próprias mãos”, disse Maurício Teles Barbosa, secretário de segurança da Bahia. “Eles não acreditam na polícia, pois eles eram a polícia. Eles eram os coronéis, os bandidos que buscavam justiça sem a participação do poder público”.

Wagner argumentou que essas atitudes relacionadas à violência, juntamente com uma indiferença demonstrada pelo estado para oferecer proteção policial e serviços sociais, permitiram que assassinos passassem altamente despercebidos. Mas um aumento no tráfico de drogas, abastecido em parte por organizações criminosas operando fora de São Paulo, piorou bastante a situação, disse Barbosa.

A chegada do crack foi particularmente devastadora. Em Nova Constituinte, comunidade periférica de Salvador que surgiu de uma antiga plantação de bananas, uma série de assassinatos relacionados a drogas tem espreitado a área nos últimos cinco anos, incluindo o massacre de seis adolescentes atingidos no fogo cruzado de gangues rivais, disse Arnaldo Anselmo, 42 anos, líder da comunidade.

Gildásio Oliveira Silva disse que traficantes de drogas tentaram por duas vezes matar seu filho adolescente, que se tornou vítima do crack e devia dinheiro aos traficantes. Segundo ele, em dezembro do ano passado eles balearam sua esposa, Ana Maria Passos ou Assis, 39 anos, quando limpava o banheiro da pequena loja de conveniência de Silva, na principal avenida de Nova Constituinte. “A violência piorou aqui”, disse Silva, 68 anos e policial aposentado. “E está relacionada às drogas”.

People walk on a dirt street in the Nova Constituinte neighborhood, known for a series of drug related killings, in Salvador, Brazil, June 30, 2011. In response to a new drug-related violence in the northeast, community police forces are stepping up their presence and establishing permanent police units in the most violent areas. (Lalo de Almeida/The New York Times)..
The body of Jenilson Dos Santos Conceicao, 20, shot to death in the street, is removed from the scene as members of the community watch from their homes, in Salvador, Brazil, July 1, 2011. In response to a new drug-related violence in the northeast, community police forces are stepping up their presence and establishing permanent police units in the most violent areas. (Lalo de Almeida/The New York Times)..

Após se tornar governador em 2007, Wagner prometeu aumentar a polícia e tentar conter o surto de violência. Ele contratou mais 7 mil policiais nos últimos quatro anos e autorizou a contratação de mais 3.500 para este ano.

A Bahia inaugurou sua primeira unidade de polícia comunitária em Calabar, um pequeno enclave rodeado de arranha-céus caros. Desde sua inauguração em abril, com 120 policiais, nenhum homicídio foi reportado, disse a capitã Maria de Oliveira Silva, que lidera a unidades.
“Nos últimos três anos, não se passava um mês sem alguém ser morto aqui”, disse Lindalva Reis, 58 anos, que mora em Calabar há 38 anos.

Três outras unidades de polícia comunitária estão com abertura programada para o próximo ano, nas redondezas de Nova Constituinte. Assim como as unidades do Rio, os policiais selecionados são na maioria recrutas, para tentar anular a corrupção e hábitos mais agressivos de alguns policiais mais velhos.
Diferente do Rio, a instalação de novas unidades aqui não demandou a remoção de gangues de traficantes entrincheiradas fazendo o uso de sangrentas operações policiais e militares que podem durar semanas.

Para enfrentar as críticas contra a dificuldade da polícia para resolver crimes, o governo do estado da Bahia criou um departamento dedicado a homicídios no começo deste ano, com 150 policiais focados em investigações de assassinatos.

Em meio aos desafios da nova unidade, sobressaem os grupos de extermínio, milícias compostas por policiais que fazem justiça com as próprias mãos e são suspeitas de dezenas de assassinatos, disse Arthur Gallas, diretor da unidade de homicídios.

Ainda há montanhas de casos não resolvidos. Nos escritórios do novo departamento, investigadores recentemente despejaram pilhas de arquivos contendo 1.500 homicídios sem solução, datando de períodos anteriores a 2007.

Porém, o novo esforço ainda é um trabalho em progresso.

Na cena do crime de Conceição, a polícia não colocou uma faixa de segurança para evitar a contaminação de evidências. “Preservar as evidências é difícil aqui”, disse Helder Cunha, investigador de cenas de crime, apontando que a proposta de requerer uma faixa de cena de crime ainda não foi colocada em prática na Bahia.


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