Escutas mostram que quadrilha no Turismo tinha ajuda de funcionários até para obter dados sigilosos
Vannildo Mendes e Felipe Recondo, de O Estado de S.Paulo
A Caixa informou, em nota, que abriu sindicância interna para apurar a denúncia de envolvimento de dois servidores no esquema desmantelado pela Operação Voucher e pediu acesso aos autos do processo.
No primeiro diálogo, de 1min49s de duração, interceptado no dia 2 de maio, Katiana Necchi, do Instituto Brasileiro de Infraestrutura Sustentável (Ibrasi), pede documentos ao bancário Edmilson para forjar uma prestação de contas. Ele atende ao pedido, mas faz um apelo dramático para que Katiana suprima algumas partes para ele não ser identificado, porque se trata, como diz, de "documento extremamente confidencial". A PF acredita que houve quebra de sigilo funcional, crime punido com até dois anos de reclusão pelo Código Penal. "É o seguinte: vou te mandar um documento que você tem a obrigação de me tirar aquela parte confidencial, tá?", diz Edmilson. E emenda: "Isso é extremamente confidencial."
Katiana é filha de Maria Helena Necchi, sócia de Luiz Gustavo Machado, o diretor executivo do Ibrasi, preso como chefe do esquema. Ela e a mãe teriam atuado juntas na tarefa de forjar documentos, quando descobriram que o Tribunal de Contas da União (TCU) investigava a fraude. Na continuidade da conversa, Edmilson informa não haver comprovante de uma transferência entre o Ibrasi e uma empresa, em virtude de ter ocorrido um depósito e uma retirada em seguida, no mesmo valor, não havendo modo de monitorar o rastro do dinheiro (R$ 193 mil).
Segundo a PF, esse diálogo também indica saques altos na boca do caixa, pouco depois de repasses feitos pelo Ministério do Turismo, modus operandi usado por outras quadrilhas desmanteladas em operações da PF. Mostra ainda que, por falta de controle, às vezes o dinheiro ficava tempo demais parado na conta do Ibrasi, quando deveria ter sido repassado às supostas empresas terceirizadas para prestação de serviços.
Falsificação
Em nova ligação, no dia seguinte, dessa vez com o bancário Rodolfo, Katiana tenta efetuar pagamentos às pressas, os quais não havia feito no tempo certo, sem a assinatura de chefe Machado, que estava em missão fora. Rodolfo concorda que a assinatura seja falsificada por outra pessoa, desde que o falsário capriche na escrita. Katiana garante que conseguirá: "Nem que eu peça para ele fazer a assinatura 20 vezes para ter uma parecida com a que tem aí". A PF não tem dúvida de que a assinatura de Machado, que estava no Amapá e não em São Paulo, era falsa.
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